sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A extinção da vida

Pobre país. País aquele que sofria de miséria. Havia muita fome, poucas escolas e muito pessimismo. Mas esses problemas não são nada perto do problema da violência. Os poucos que tinham algum bem, eram roubados e alguns mortos. Crimes passionais aconteciam todos os dias. Acidentes, estupros, assaltos e invasões de terra. Por mais que prendessem, as cadeias já estavam lotadas. Os mais ricos se protegiam com muros altos, cercas tecnológicas e armas. Já os mais pobres ficavam a beira da sorte.
Entretanto, chegaram as eleições para o presidente daquele desgraçado país. Dois candidatos, opostos um do outro, debatiam para chegar a melhor solução para a violência. O primeiro pretendia investir em educação, fazer as cadeis reintegrarem os presos na sociedade, investir em esportes na infância e juventude e por fim, tirar as armas da polícia. Já o segundo debatia apenas uma solução: a pena de morte para todo indivíduo que for acusado de matar, estuprar ou roubar. Ou ser reincidente em um crime de não pagar impostos. Mais armas para a polícia, presença total de policiais em cada esquina e por fim, o fim da maioridade. Qualquer pessoa, independente da idade, estava apta a morrer. Ambos debatiam calorosamente, cada qual com seus argumentos e suas visões de mundo. O primeiro candidato tinha pouco tempo na TV. O segundo tinha todo o tempo do mundo na mesma. Este último estava o tempo todo a defender sua ideia na TV. Deu certo. O segundo candidato viraria o presidente da nação.
O povo comemorou. Agora teria paz sem aqueles vagabundos que não se ocupavam. Talvez por causa do alto desemprego, mas isso era pouco relativo."Vagabundo  não quer trabalhar e tem que morrer" dizia o presidente. Rasgou a antiga constituição e fez junto com seu partido na câmara, a nova constituição. Na TV, fez considerações sobre a nova Carta Magna do país:
- Cidadãos de bem do meu país, escutem. A constituição que vocês tanto clamaram, está feita. Quem for pego matando, roubando ou estuprando, seja qual for sua idade, sexo, estado civil ou orientação sexual, vai ser condenado a pena capital. Tudo em nome da sociedade de bem deste país que trabalha e trabalha muito para manter este país. Além disso, qualquer cidadão armado, está apto a atirar em qualquer um que estiver cometendo o crime ou se estiver provado que ele causou o delito. A pena de morte estará para todos e o vagabundo vai pensar bem, mas muito bem, antes de cometer um crime. E viva nossa nova constituição!"
Foi um sucesso. Todos comemoraram o resultado da assembleia dos deputados. E desde então, as execuções públicas viraram um sucesso. O primeiro a ser executado em praça pública foi um adolescente de 15 anos, acusado de roubar uma padaria. Foi executado da pior maneira que existe: na guilhotina, e sua cabeça no cesto foi comemorada por todo país. As execuções viraram um sucesso no país: um serial killer, um estuprador e um ladrão de bancos foram crucificados num outro dia. Um idoso acusado de pedofília foi executado na cadeira elétrica. E um a um, as cadeias esvaziavam com os presos sendo enforcados.
Parecia ir tudo ir bem. Os índices de criminalidade caiam na mesma medida que as cabeças nos cestos da guilhotina. As emissoras de TV ganhavam anunciantes durante as execuções ao vivo. O presidente teve uma popularidade jamais vista na história. Por outro lado, as escolas, os hospitais, as ruas e os prédios públicos estavam em mal-estado. As execuções e enterros eram muito caros. De modo a economizar nisso, o governo autorizou o apedrejamento e a jogar os corpos dos mortos no mar, sem qualquer velório. As famílias dos meliantes estavam proibidas de enterra-los.
Embora tenha economizado os custos da pena capital, o governo economizou também na educação. Poucas escolas foram construídas ou reformadas, ou tiveram livros novos ou aumentou o salário dos professores. A saúde pouco avançou. O transporte público já foi melhor e não dava conta da população das cidades que cresciam sem parar. Enquanto isso, carros novos nas ruas, armas de última geração, e salários altos, com bônus para quem matasse. Esses eram os policiais, que antes reclamavam que tinham pouco e agora, tem de tudo. Por causa disso, muitos queriam a carreira de policial. O problema era que o número era tão grande que um "vestibular" passou a ser aplicado aos novoa recrutas. As cadeias ficaram tranquilas e os criminosos que pagaram para não morrer eram os traficantes, golpistas e corruptos. E seus crimes, de dentro das celas, continuaram. Os dependentes das drogas continuaram a aparecer e novos crimes a surgir. Nem todos eram pegos e poucos morriam.
Nesse momento, o canditado a presidência que perdeu, foi ao Congresso discursar. E disse:
- Senhoras e senhores! A vida virou algo banal neste país. A pena de morte não adiantou nada, os crimes ainda acontecem. Ainda há tráfico de drogas, crianças sem escola e doentes aos monte noa hospital. O que o presidente tem feito por eles? A morte, condenaram-nos todos a morte. A morte não vai solucionar nada aqui em vida. Nada. Precisamos de mais insvestimentos em..."
Parou! Rapidamente, homens do exército apareceram e levaram-no para a praça central da capital. Ele foi sedado. Quando acordou, a lâmina da guilhotina encostava seu prscoço. Suplicou para viver até o presidente aparecer. O presidente soltou a lâmina e matou seu rival. E de lá, disse:
- O próximo que insultar o país terá o mesmo destino que esse aí. Joguem a cabeça pro público!
O povo ficou um tanto calado ao ouvir tais palavras. Agora irá morrer quem falar mal do país e ser contrário ao presidente. Tanto que a oposição fugiu para o país vizinho. A população ficou com medo, mas as emissoras diziam que tudo era para proteger o país. Além de roubar, matar ou estuprar, criticar pra baixo também era pena de morte. Ou seja, qualquer um ia morrer sem piedade. Tanto que tempos depois, uma criança vomitou na bandeira sem querer. Foi afogada da pior maneira possível. A mãe nem ao mesmo pode chorar, pois senão morreria. Não houve defesa e uma inocente criança foi morta. A notícia se espalhou e muitos se revoltaram, pedindo a pena de morte. O presidente mandou o exército matar todos da multidão. Bombas, tiros e gases eram disparados nas ruas contra os manifestantes, uns revoltados da morte do menino, outros simpatizantes do candidato morto. Muitos não sobreviveram. E nem na TV, ou no rádio a notícia doa mortos nas ruas foi passada. Tudo que foi dito era de que queriam a cabeça do presidente. A censura a mídia estava em prática.
As execuções ao vivo não passavam mais na TV. As pessoas ficavam ao mesmo tempo aliviadas pelos bandidos que eram mortos, mas muitos estavam com medo de morrer. Mas os assaltos e assassinatos ocorriam, passionalmente. Os presos eram mortos e ninguém sabia onde era a vala desses mortos. E nem julgamento existia. Passaram anos assim e a nação, que o ditador jurava estar melhor, era a mesma. Pobre e falida, com muitos desempregados. O único emprego bom e garantido era a carreira policial e também a militar. A pena de morte pouco mudou a vida dos cidadãos. Embora um pouco mais segura, os habitantes do país não tinham saúde e educação básicos. E nem podiam reclamar, pois quem reclamasse iria morrer. Menos alguns, como o filho do ditador.
Esse sujeito estava saindo de uma festa, quando perdeu o controle do veículo e matou uma menina adolescente. Nem ao menos socorreu-la. Fugiu de lá mesmo, mas muitos populares queriam matá-lo, afinal cumpriam a lei de que quem fosse pego matando alguém, merecia a morte. O rapaz foi pego por um tiro, mas sobreviveu e contou ao pai. O pai mandou matar todos daquele lugar que atiraram contra seu filho. A mãe da jovem morta gritou contra os militares e disse que a lei vale para todos e que o ditador não é Deua para decidir quem morre ou não. E até lembrou que Jesus nunca foi favorável a pena de morte ou a pré-julgamentos como estava sendo feito no país. A mulher foi pega e crucificada em praça pública. Mas a reação da população não foi de felicidade por um "criminoso" morrer. Foi logo de revolta, pois o ditador protegeu o filho que cometeu um crime e ainda matou uma inocente.
Quem estava no local correu para o palácio presidencial com pedras, facas e paus. Os militares e policiais isolaram a área e começaram a atirar. Muitos morreram ali mesmo e não tinham o direito de ser atendido. Os que já agonizavam levavam mais tiros, com os policiais rindo à toa de mais um trabalho bem cumprido. Até agora. Um ex-aliado da pena de morte gravou todo o masacre em praça pública e com a ajuda de um colega estrangeiro, fugiu com as imagens para fora do país. Mostrou-as para o mundo e o mundo conheceu bem a pena de morte como era. As torturas antes das execuções e toda a crueldade do governo, que usava métodos como a crucificação e o apedrejamento.
Os líderes estrangeiros boicotaram aquele país. Ninguém vendia e ninguém conprava dele. Não pode se tolerar tal sadismo de um governo. Governo este que entrou em crise e os policiais pararam de receber. Naquele momento, eles se recusaram a executar criminosos e inocentes. Se juntaram a população contra o ditador. Os militares, um tempo depois, se juntaram. O presidente passou a ser desmoralizado por todos os setores, pois o país piorou muito. E no dia da independência, ele foi preso pelos militares. Foi algemado junto ao seu filho. Foi guilhotinado na mesma guilhotina que seu rival e que muitos populares. Aquele que tanto defendeu a pena de morte sofreu dela.
As sanções contra o país só terminariam quando a pena capital fosse excluída. Após a posse do novo governo, ela foi extinta e foi jurado que ela nunca voltaria. As escolas e a saúde foi gradualmente melhorando e a violência diminuindo até chegar a zero governos depois. Todos nasciam com direito a vida, direito de se defender e direito a educação e a socidade. Tudo isso sem sangue ser derramado. E uma nova geração surgiu para não repetir os erros do passado.

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