terça-feira, 17 de maio de 2016

Visita ao Projeto Drenar

Olá gente, há quanto tempo! Faz tempo que eu escrevi aqui pela última vez. Mas prometo não deixá-los órfãos e ainda escreverei uma vez por mês, mesmo com provas chegando, tentativas de arranjar estágio fracassando e trabalhos e mais trabalhos. Mas agora, depois de muito tempo, escreverei sobre  algo relacionado a engenharia, coisa que este blog deveria falar (mas como sou dono, escrevo sobre o que eu quiser muahahahah).
Então galera, no fim do mês passado fui convidado por uma querida amiga (a Tatiane, vocês se lembram dela da matéria do documentário) para uma visita nas obras do projeto Drenar, que estão acontecendo na cidade dela, São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. Foi no sábado dia 30, o que me obrigou a me ausentar do curso de CAD pela parte da manhã e partir ao ABC. Sai atrasado da casa da minha avó, mas a tempo de encontrar nosso amigos, o Marcelo (melhor estudante do Mackenzie e futuro prefeito de São Paulo) e a Ivanise (na verdade, Michelle).
Tão grande quanto a minha Guarulhos, São Bernardo nos convidou para visitar o grande projeto de obras que promete acabar com as enchentes que acontecem na cidade e prejudica seus cidadãos. Tal como São Paulo e outras grandes cidades do país, São Bernardo enterrou seus córregos e rios por baixo de ruas e avenidas. Mas quando chove forte, as enchentes acontecem e esses rios "ressuscitam" com fúria. Várias áreas da cidade sofrem do problema e o Centro da cidade é um dos mais atingidos. Isso ocorre naturalmente, já que a tendência dos rios paulistas é de alagar suas margens, as chamadas "várzeas". E o Centro de São Bernardo faz parte dessas zonas de várzeas. Dois rios percorrem os subterrâneos dessa parte da cidade, escoando a vazão não só deles, mas de seus afluentes lá atrás. E quando chove forte no verão (ou em outra época), o problema com as enchentes aumenta. Claro que já tentaram consertar o problema lá atrás, mas erros nos projetos passados fazem o problema persistir. Daí veio a necessidade da prefeitura intervir no problema e iniciar um grande projeto de macro e micro drenagem.
O projeto Drenar consiste em uma grande rede de túneis de drenagem, além de canalizações de córregos, construção de galerias que tem como objetivo escoar o excesso de água das chuvas para grandes piscinões que estão sendo construídos na cidade. Eu e meus amigos visitamos o poço 2 do túnel que passa por baixo da Rua Jurubatuba, onde um túnel com mais de 1 km de comprimento e 6,2 m de diâmetro está sendo construído. As etapas anteriores da obra consistiram na canalização dos córregos Silvina, Ipiranga, Capuava e Ribeirão dos Meninos, além dos piscinões Jacquey, Ipiranga, Vivaldi e Helena, que beneficiaram a região de Rudge Ramos, importante distrito da cidade.
No dia em que nós fomos, estava lá o secretário de Serviços Urbanos da cidade, Tarcísio Secoli. Ele começou discursando sobre a obra e sobre o piscinão que será construído no paço Municipal da cidade e que terá capacidade de armazenar 190 milhões de litros d'água. Água que virá do túnel em que visitamos e que depois irá para o Ribeirão dos Meninos. Aquele poço seria visitado pelo secretário pela primeira vez, já que ele só foi no poço 1, em outra parte da rua. Para descer até o túnel, 10 pessoas por vez do grupo de estudantes que vieram visitar a obra. E o quarteto foi na frente, colocando capacete e descendo 6 metros abaixo. E chegamos lá.

Da esquerda para direita, Marcelo Henrique, Matheus Rocha (Vulgo eu), Michelle I. Silva e Tatiane Sabino, nossa anfitriã
Embaixo da terra, o engenheiro nos explicou sobre como eles abriram o túnel e da dificuldade que tiveram naquela área por conta da escavação de uma rocha sã no meio daquele solo arenoso (aulas de mecânica dos solos fazendo efeito junto de hidrologia). Vimos o túnel já concretado, mas que futuramente ele receberia um reforço de concreto novo mais na frente. Apesar de não estar funcionando, muita água jorrava nos nossos pés. E sobre nossas cabeças, mesmo quando o lençol freático foi rebaixado para permitir a construção do túnel. Fomos de um lado, fomos do outro e era complicado andar lá. Uma queda nos sujaria todos. Tiramos fotos e fiz um vídeo de nossa caminhada, mas está muito escuro. O colocarei aqui mesmo assim. A importância da obra é tanta que o período de retorno da obra é de 100 anos. Para quem não tá por dentro, período de retorno é o tempo em que a obra foi dimensionada. Ou seja, a vazão que ultrapassará a máxima vazão que o túnel pode suportar sem problemas tem probabilidade de ter aquela vazão uma vez a cada cem anos. Para uma obra de drenagem isso é muito, visto que geralmente obras deste porte tem períodos de retorno de até 50 anos. Itaipu e Tucuruí foram feitas para 10.000 anos. Uau!!!

O método de construção empregado na obra é o NATM (New Austrian Tunnelling Method) ou "Novo método austríaco de construção de túneis", muito usado em obras de túneis rodoviários e metroviários. O método consiste em criar uma estrutura temporária após a escavação parcial do maciço. É feito uma concretagem que evita a acomodação do solo após a escavação, utilizando ainda tirantes e outras estruturas de suporte se necessários. A escavação depende da resistência do maciço e da estrutura montada. Drenos são criados caso houver um lençol freático ou acúmulo de água. Embora o método seja europeu e dimensionado para os solos de lá, no Brasil passou por adaptações como o tratamento prévio do solo e a escavação direta. Ainda tenho muito a aprender sobre solos e esses métodos, mas dei uma luz aqui.
Saímos do túnel felizes de ver uma obra deste porte. E de como a engenharia pode mudar a vida das pessoas. Embora a obra cause transtornos no presente, como o trânsito, barulho no canteiro de obras e rachaduras nas casas e comércios próximos. Mas no futuro, benefícios virão como menos alagamentos, menos transtornos e o projeto ainda consistiu em levar saneamento básico para a população próxima aos rios, que nem sequer tinham ligação. E pra você que ficou curioso, é possível visitar o túnel aos sábados de manhã (entre as 8h30 às 11h). A dica é que fica ao lado do Terminal São Bernardo da EMTU, com o trólebus vindo do Jabaquara. Para isso, entre no site www.saobernardo.sp.gov.br/drenar para maiores informações.
Tão importante quanto construir é conscientizar a população da importância da obra e do cuidado que cada um tem que ter para evitar enchentes. Então rapaziada, nada de jogar lixo naquele córrego próximo de casa. E eu e meus amigos saímos de lá com outra visão sobre obras deste tipo. Uma notícia positiva em meio a tanta crise.
Para finalizar, a previsão é de que todas as obras (túnel, piscinão e outras obras do sistema) ficarão prontas no final deste ano. As obras seguem aceleradas, 24 horas por dia, 3 turnos e de segunda a domingo (até domingo às 6 horas da manhã).

Amigos, até depois das provas.


Imagens da obra (cortesia da Ivanise):







Uma nossa pra terminar a matéria.


Maiores informações:
Trabalho de alunos da USP sobre o Drenar
www.saobernardo.sp.gov.br/drenar