terça-feira, 26 de agosto de 2014

A escrita muda, mas a ideia não!

" Oje, preciso de você,
Com qualqer umor,
Com qualquer sorrizo,
Oje só tua prezensa,
Vai me deixar feliz
Só Oje... "
Começo o Post com o refrão da música " Só Hoje " do Jota Quest com uma escrita alternativa, que poderia ser realidade. Poderia. Esta semana, vi notícias de que o Senado estaria a votar um projeto de reforma gramatical que deixaria o refrão da música assim. O H deixaria de ser escrito no começo das palavras. O dígrafo SS seria escrito com apenas um S, bem como o Ç. Já as palvras com som de Z, teriam que ser escritas com z na sílaba correspondente. O CH desapareceria e daria lugar ao X. O U deixaria de ser escrito em sílabas como Que, Qui, Gue e Gui.
A real é que tudo isso só passou de boatos. Esse projeto não existe. O que estava realmente sendo discutido no Senado era a Reforma Ortográfica de 1990, aquela que extingui o trema, por exemplo. O acordo valeria para todos os países de Língua Portuguesa desde o ano passado, porém, por burocracia e problemas de adaptação ( especialmente em Portugal ) , a validade do acordo passou para 2016. Isso descobri hoje, porém, como futuro Engenheiro que sou, sou muito observador. Analisei muitos comentários negativos para essa reforma. Pouquíssimos foram a favor da mudança. Por quê será?
Bem, digo que muitos disseram em seus comentários que isso tem a ver com a falta de investimento em educação. Outros disseram que era a legitimização do analfabetismo no Brasil. E uns acharam que a culpa era do PT ( pra não perder a piada ). Todos que comentaram estavam revoltados por terem sofrido para escreverem certo e agora acabariam com algumas regras para facilitar para a garotada atual. Muitos pensam que as crianças de hoje são estúpidas e tem preguiça de escrever por ouvirem muito Funk. Enfim, acharam mil e um culpados para tal projeto de Lei.
Muitos desses devem ser Doutores na língua portuguesa, Professores Pasquales da vida e nunca escreveram " q " , " vc " ou " ta " por aí, para fazerem tais comentários. Pensam que nossa língua é imutável e que tudo que está aí hoje surgiu nas cavernas. Mal sabem que todas as línguas mudam, sejam na pronúncia ou na escrita. Você já foi Vosmecê e que tinha sido Vossa Mercê. Escrita e pronunciada. Mal sabem como a língua portuguesa tem milhares de regras e por causa disso é uma das mais díficeis de ser aprendida, mesmo por alguém nascido aqui. Sem contar que, por mais estranho que escrevi no começo do texto, realmente escrevi como ele deve ser escrito, se fosse contar a pronúncia da palavra. As línguas mudam e caso o projeto fosse mesmo verdade, o apoiaria, pois seria mais fiel a pronúncia das palavras e associando-as com a escrita, facilitaria muito mais na hora da alfabetização. Lembro de como a pronúncia nos engana na hora de poder escrever e muitos alunos ficam perdidos quando tem que entender que " Legal " tem L no final e não U como se imaginaria.
Outro fator é o status social. Muita gente associa o " Falar e escrever " correto com status social, pois as elites sempre discriminam aqueles que escrevem fora de suas normas-padrão, como vejo no Facebook. Não exatamente a Elite e sim, pessoas que reproduzem seus discursos. Escrever tem um certo status. Essa reforma se existisse, faria justiça com as pronúncias na escrita e obrigaria todos a escreverem da mesma maneira. Levaria tempo para se acostumar com essa nova escrita, mas não haveria preconceito se o cara esrevesse " Qiabo ", por exemplo. Nem mesmo os ricos pronunciam o U dessa palavra, ficando " Cuiabo " . E muitas línguas levam em conta mais a pronúncia do que a própria escrita, como o Espanhol e o Inglês. O Espanhol por ser objetivo e direto e com palavras que aconpanham sua pronúncia. O Inglês, idem. Com menos regras gramaticais, são idiomas até mais simples de se aprender. No gerúndio, o Espanhol possui -ando e -Iendo. O Inglês conta apenas com o sufixo -ing. E o Português com seu -ando, -endo e -indo, sem contar a exceção -ondo. Exceções estas que complicam muito o estudante e até alguns adultos na hora de escrever e de pronunciar.
E outra coisa que os nervosinhos da net se esqueceram. O mais importante deles: o consentimento dos países lusófonos como o nosso. Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste teriam que entrar em acordo conosco e entre eles para que isso que foi proposto por nosso Senado para que esta nova ortografia fosse aceita. A língua depende de questões políticas, pois ninguém simplesmente é dono dela. Portugal pode se sentir dona dela, afinal foi este país que impôs este idioma a nós e os outros colegas lusitanos. Mas é no Brasil que essa língua tem seu maior número de falantes e que contribui em 90% o fato deste idioma estar entre os mais falados do planeta. Foi aqui que ganhou importância para valer, pois se não fosse os brasileiros, os comerciantes de Miami, as empresas de jogos e de outros entreterimentos não aprenderiam português ou disponibilizariam produtos neste idioma. Sem contar que o Português, mesmo em Portugal, não é nem originário deste país, pois antes fora galego - português e que fora Latim. Sem contar a influência árabe em suas palavras. E aqui no Brasil, contou com a influência de muitos povos, especialmente os negros e indígenas das mais diversas tribos. E na África, a influência das línguas nativas, tais como na Ásia, no Timor Leste. Ou seja, ninguém deve ser dono da língua, pois ela não é nem pura onde surgiu e nem em outra parte. E contar que estamos há mais de 25 anos parados com esta atual reforma, imagina se outra como as do boatos fosse verdadeira? Demoraria muito mais tempo, até os países entrarem em consenso das mudanças. Portugal nem quer perder sua indentidade tirando o C mudo de " Tecto ", por mais que não o pronunciem, imagina para eles escreverem " Gitarra " " Aso " ou mesmo " Pizo "? Para uma reforma linguistica sair, é preciso muito consenso político e cultural, o que não é tão simples e prejudica o fortalecimento do português como língua mundial, tal como o Inglês, Espanhol e até o Árabe. Estas últimas tem escritas unificadadas, embora as pronúncias variem de país em país falante. O " Yo " espanhol varia entre o " Io " espanhol e mexicano até o " Jo " argentino.
Para concluir, digo que não sou estudante de Letras e talvez, não tenha tanta autoridade no assunto. Mas lembro que sou sempre a favor de reformas ortográficas que facilitem a escrita e o aprendizado da língua nas escolas. Tudo poderia ser como no mundo de unidades unificadas universais da física e da matemática na Engenharia. Mas em uma língua, por questõea políticas e culturais, é bem mais complicado. Mas até tudo se acertar, o que vale não é a pronúncia ou a escrita da palavra. Vale mesmo a ideia do comunicador. Se o ouvinte entender o que o comunicador quer dizer, por mais que gramaticalmente ele esteja errado, o comunicador nunca estará errado. Sábias palavras do Professor André, professor de gramática do cursinho.
Para maiores informações: http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/08/21/cyro-miranda-refuta-boatos-sobre-mudancas-na-lingua-portuguesa

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