segunda-feira, 23 de março de 2015

Uma análise dos protestos bem atrasada

Caros amigos, não está fácil encontrar tempo na minha agenda para poder escrever tudo o que quero. Nem há tempo para inspiração. Mas eu tento agradar aos leitores deste humilde blog de qualquer jeito. Bem num dia de segunda, sobrou um tempo. Não o haverá mais pois as provas estão chegando aí e o bicho vai pegar. Mas depois eu conto o final delas para vocês. Adiantando: tirei zero em tudo e me compliquei. Bem, aguardemos próximos capítulos.
Hoje vou comentar sobre os protestos do dia 15 de março e voltando mais de 10 dias, os do dia 13. Isso já rolou e eu estou que nem Rubinho BarrichelL: lento nos assuntos. Piada de mal gosto contra o piloto que mais vezes correu na categoria F1. Mas vamos ao que interessa.
No dia 13 de março, organizações de esquerda organizaram um protesto contra o corte de direitos trabalhistas, a defesa da Petrobrás, em favor da reforma agrária e alguns, na defesa do cargo da Presidente Dilma Rousseff. Mais de 30 mil pessoas na Paulista e outras milhares em todo o país. E entre os que defendiam, os que atacavam denunciaram o pagamento de 35 reais e um pão com mortadela para quem fosse em favor. E no dia 15 de março, o tão esperado protesto contra o governo. Faixas e mais faixas pedindo Impeachment (escrevi sem olhar no Google), contra a corrupção, contra o governo, contra o comunismo, contra tudo isso que está aí e até pelo retorno dos militares, por alguns ativistas. A cobertura deste protesto foi digna de cobertura de Copa do Mundo, com pessoas vestindo o verde-amarelo da CBF, em sua maioria. Eram a favor do país acima de partidos políticos. Ou não, já que alguns políticos da oposição quiseram se beneficiar deles.
E como no protesto do dia 13, os do dia 15 não fugiram dos ataques. Que lá só havia pessoas a favor da intervenção militar ou do Impeachment da Dilma? Não exatamente, visto que muitos foram lá mais contra a corrupção, embora estivesse lá muita gente em favor dessas duas causas. Só havia brancos e de classe média, ou a "Elite Branca"? Também não exatamente, já que muitas pessoas que não são brancos e tampouco ricas, marcaram presença. Aí se incluem um amigo meu, maranhense de nascimento, que ao contrário do senso comum que se instaurou na eleição, é tão contra a Dilma que um paulista típico. Isso mostra que os protestos não eram assim tão homogêneos, mesmo que a maior parte dos manifestantes se encaixem no perfil que tracei. Assim como nem todo pobre e trabalhador esteve sexta-feira na Paulista. Nem todos eram negros ou pardos. E nem eram analfabetos, pois segundo pesquisa do Instituto Datafolha, 69% dos manifestantes de sexta-feira (uma amostra, na verdade) tinha ensino superior. No domingo o número era pouco maior, por volta de 76%.
Enrolei, mas não cheguei em nenhum rumo ou azimute no que queria dizer. A verdade é que os protestos não podem ser caracterizados de uma forma. Na sexta-feira, boa parte votou em Dilma (71% da amostra). Mas apenas 39% apoia o governo Dilma como está. Tal como domingo, em que 84% da amostra de manifestantes reprova o governo Dilma e 82% votaram no candidato Aécio Neves, da oposição. O perfil de participantes (maioria com ensino superior) mostra o que foram as eleições: vencidas com diferença mínima.
E muitos no protesto de domingo foram contra a corrupção. Corrupção do PT (Partido dos Trabalhadores), só se for. Estavam mencionados o caso do Mensalão, das parcerias do Brasil com países nada amigáveis (Cuba e Venezuela) e do caso mais recente, o Petrolão. Muitos indignados a rua contra a corrupção de um partido. Nada mais natural da população se rebelar contra o que está aí no momento. Mas ignoraram o fato do caso da Petrobrás ter começado no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC para os íntimos), do PSDB. Partido do qual pertence Aécio Neves, que teve seu nome fora da lista dos políticos investigados da Operação Lava a Jato. Partido que comanda o estado de São Paulo há mais de 20 anos, com casos de corrupção no metrô e trens, além da Sabesp, o que levou com outros fatores já explicados mais de duas vezes pelo Blog, na crise atual da água. Justo se indignarem contra o PT. Mas isso não faz o partido de Aécio Neves, o mais votado entre os manifestantes de domingo, uma opção.
O PT simplesmente perdeu o rumo de tudo. As críticas daqui de cima mostram que a oposição não é santa. Mas tampouco a situação é. Dilma perdeu o rumo do país que o seu antecessor e mestre, Lula, deixou em 2010. O país crescendo mais de 6% ao ano mesmo com a mais grave crise econômica desde 1929. A produção industrial cai constantemente, crise na Petrobrás explodiu em suas mãos, queda na geração de empregos e o país à beira da recessão. Mas sejamos realistas: nada ainda apocalíptico como andam dizendo os que fugiram para o paraíso de Miami. Mas que pode piorar, a menos que as medidas de austeridade de Dilma e seu ministro da fazendo, Joaquim Levy, discípulo de Armínio Fraga, aquele ministro tão duramente atacado na campanha petista, surta algum efeito. Mas os aumentos de impostos, combustíveis, tarifas de energia e inflação alta, com corte em direitos trabalhistas (que Dilma garantiu que não ia mexer na campanha) não deixaram só a "Elite Branca" revoltada. O bom ritmo que vinha a construção civil declinou. Dilma paga pela falta de sinceridade da campanha e da péssima gestão econômica do seu primeiro mandato.
Deixo claro que não há, por enquanto, motivos legais que levem Dilma a deixar o cargo. Há quem diga que ela tem um dedo no Petrolão. Tal como Alckmin teria nos cartéis de metrô ou seu colega de partido (de Alckmin), Beto Richa, governador do Paraná, que enfureceu os professores de seu estado. Se fosse para pedir Impeachment por má gestão, boa parte dos que estão o poder já teriam deixado o cargo. Muitos do que votaram em Aécio não eram tão ligados a ele. Só votaram por falta de opção e por serem, em primeiro lugar, contra os ditos "petralhas". Mas Aécio faria o que no poder? O mesmo que Dilma no poder. No final, tanto os manifestantes quanto os políticos não diferem muito em sua forma de agir. Apenas Aécio foi "sincero".
O pior está por vir. Dos pólos Direita e Esquerda, cada dia mais cresce o radicalismo entre elas. Desde ditadura comunista totalitarista do PT da direita a Direita entreguista e homofóbica da esquerda. Mas só o presidente não basta. Muitos se esqueceram dos deputados, senadores e outros políticos, Esqueceram da reforma política para acabar com o sistema eleitoral atual, em que puxadores de voto elegem corruptos e outros que o eleitor não se sinta representado. O PT, por exemplo, paga o preço por alianças com partidos como PMDB e PP, os maiores investigados da Lava a Jato. E dentro destes partidos, há células contra Dilma, com os mais notáveis membros delas o atual presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Jair Bolsonaro (PP-RJ). Tudo pela bendita governabilidade.
Os manifestantes foram as ruas. Dilma prometeu dialogar, como fez em 2013. Mas se serão ouvidos é outra história. Por enquanto, conviveremos com este nosso belo sistemo político, onde poucos fazem e muitos pagam. Quem foi as ruas, teve seus motivos. Seja contra ou a favor do governo Dilma, que enfrenta uma grande turbulência. É a chance dela superar, tal como fez contra as torturas que sofreu na ditadura. Uns julgam que deveriam matá-la, os que querem a volta dos militares. Mas outros veem na democracia um caminho. Um longo caminho percorrido por manifestantes que se dizem diferentes, mas são iguais. Querem o bem, independente dos meios que justificarão seus fins.



Acima e embaixo, dois protestos bastante diferentes na aparência. Mas tem essências semelhantes.






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