quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A polêmica do Parque Augusta

Uma das grandes polêmicas que rondam São Paulo nos último anos é sobre uma área de 25000 m² localizada no Centro de São Paulo. Localizado entre as ruas caio Prado e Marquês de Paranaguá com a Rua Augusta, um terreno no qual foi um colégio interno fechado em 1967 é alvo de disputa entre a população e construtoras. Trata-se do Parque Augusta, considerado o último vestígio de Mata Atlântica localizado no Centro da maior cidade do hemisfério sul.
Sobre o terreno, uma disputa do que se fazer: para a população, uma nova área de lazer e verde. De outro lado, a construção de três torres residenciais. Uma disputa que vem desde que o colégio foi demolido em 1974, de maneira ilegal. Mais de 40 anos depois, ativistas conseguem abrir o "parque" para a população e pressionam a prefeitura para a criação do parque. Mas as donas do terreno, as construtoras Cyrella e Setin prometem reintegração de posse, marcada para o dia 4 de março.
Na tarde de ontem, o que escreve a matéria foi ao local, enquanto este está aberto. Como diria um famoso apresentador de programas policiais...EU ESTAVA LÁ!

Vista do bosque por dentro do Parque.


Impressões sobre o local

Cheguei por volta das 13 horas. O tempo estava quente em São paulo, na marca dos 30°. Ao chegar no parque, alguns avisos. Entre eles, proibido jogar lixo, destruir plantas do local e nada de bitucas pelo chão. Também havia informações referentes as causas dos ativistas, sobre a história do local e para que lutam. Mensagens contra o aumento das passagens dos ônibus e contra a mídia também eram presentes. Mas além de protesto, os ativistas colocaram na entrada informações sobre palestras ministradas por eles e de cursos, como de artesanato e capoeira. Com horários definidos.
Ao entrar no Parque, observei várias barracas. É aonde os ativistas dormem no local. Havia umas quatro ou cinco próximas a entrada e mais algumas ao fundo. O terreno tem marcas de asfalto e alguns carros do lado virado para a Rua Augusta. Provavelmente, funciona algum estacionamento. E do outro lado, um bosque. Era o bosque da antiga escola do local. Uma mata até fechada, mas com algumas trilhas provavelmente feitas pelos ativistas. E no meio do bosque, alguns restos do colégio. Ainda há vestígios do que foi alguma edificação, como você pode ver pela imagem abaixo.



Continuei andado pelo bosque. vi algumas pessoas sentadas em uns banquinhos improvisados, conversando. Aproveitando a paisagem verde no meio do cinza. Em sua maioria, jovens. Mas havia algumas pessoas mais velhas e alguns trabalhadores da região. Continuando a caminhada, vi alguns pássaros que não sejam pombos. Sabiás, joão-de-barro e até um periquito consegui ver. Dificilmente se veria esses pássaros pelo centro. 
No fim do bosque, vi uma casa. Ou o que seria uma casa, com algumas mulheres residindo nela. Assim como algumas casas que vi próxima da Marquês de Paranaguá, aparentemente abandonada. Mas havia algumas pessoas dentro dela, e uma delas saiu assim que deixei o local. Mas não se importaram com minha presença. 
Após o "rolezinho" que dei no parque, sentei próximo da entrada. Próximo também do acampamento dos ativistas pelo parque, que estavam almoçando. Pão e suco era o prato do dia. E naquele momento, um delas volta para o local trazendo a mãe, uma senhora bem idosa. A senhora se sentou e conversou com os ativistas e um outro senhor, provavelmente algum parente de um deles. E eles discutiam sobre o que queriam para o local. Logicamente, 100% do terreno para o parque. 
Sai do local 1 hora depois. E senti algumas diferenças do lado de fora do parque. A sombra das árvores fazia o clima lá dentro ser bem diferente da rua. O calor das ruas de concreto e aço se transformavam num clima agradável e fresco. O ar sujo virava um ar puro. Precisava sair para voltar à aula.
Conjunto de regras do Parque

 

Situação do Parque

Segundo os ativistas, desde o Plano Diretor Municipal de 2002, a área era prevista para virar um parque. E em outros cartazes, dizia que a ideia vem desde 1913. Mas em outras palavras, a lei que sanciona a criação do Parque foi aprovada pelos vereadores e sancionada pelo prefeito Fernando Haddad (Mr. Bike) em 2013. Entretanto, a própria prefeitura alegou não ter condições financeiras de equipar e criar o parque. Viabilizar uma nova área de lazer ficou difícil. Mas mesmo a lei do parque sendo sancionada, o Cremesp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) aprovou a construção de prédio no local, contrariando a lei de um ano antes.
Entre a prefeitura e as construtoras, há um grande imbróglio. A Prefeitura teria de pagar 100 milhões de rais para as construtoras e adquirir o terreno para criar o parque. Mas a prefeitura poderia tomar o terreno de graça, se declarasse o terreno como ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental), tal como querem os manifestantes. Declarado como ZEPAM, as construtoras teriam complicações para viabilizar seus projetos e teriam que ir para outros cantos da cidade. As construtoras compraram o terreno do ex-banqueiro Antonio Conde, em valor não divulgado na época. 
Enquanto os ativistas e moradores da região defendem a implantação do parque em todo terreno, as construtoras garantem que irão ocupar 40% do terreno com três torres de até 45 metros de altura. Já a prefeitura diz que a ocupação do terreno pelas torres não deve ultrapassar 33% do terreno. O bosque seria totalmente preservado, pois possui espécies nativas da Mata Atlântica, que hoje possui menos de 7% de sua área original. Enquanto isso, mais arranha-céus ganharam vida na cidade. 

Opinião final

A engenharia, seja ela de qual área for, envolve transformações. A Engenharia Civil é a que modifica a natureza. E nos grandes centros urbanos, ficar mais próximo do trabalho e evitar o trânsito é o sonho de muita gente. Aproveitando-se disso, a construção de novos residenciais em áreas do centro se tornou uma ótima oportunidade para as construtoras. A rua Augusta vê seus antigos prédios virarem grandes residenciais. Do outro lado do Parque Augusta, há um novo condomínio ganhando vida. No final da rua, outro prédio. E em toda baixa Augusta, surgem novos prédios residenciais.
 
Do outro lado do Parque Augusta, um novo condomínio.
Para alguns, o surgimento de prédios é legal. O terreno tem dono e logo, ele faz o que bem entender. Outros querem a criação de mais uma área de lazer. Ou uma área verde no Centro da cidade, região que carece de árvores. Enquanto o Centro velho tem o Parque da Luz, o dito centro novo não possui nenhum. Mas alguns vão além e ficam com medo da criação do parque. O medo é da região ser tomada por usuários e traficantes de drogas, prostitutas, travestis e mendigos. Colocação um tanto preconceituosa em alguns aspectos, já que reina o medo de a região virar uma nova "Cracolândia". E sobram críticas aos ativistas, que seriam "filhinhos de papai esquerdistas", vagabundos e maconheiros. E finalizam dizendo que o prédio dará lucro para a cidade com o IPTU pago pelos moradores e gerando emprego para trabalhadores da construção civil e funcionários dos novos empreendimentos.
Mas há uma proposta que até me agrada e que seria vantajosa para as duas partes: a construção no terreno ocorreria e o parque seria criado, tendo uma divisória separando os moradores do local e os frequentadores do parque. Mas não seria fácil para alguns moradores, visto que não dividiriam o terreno com um parque. 
Já vi propostas que querem que o parque tenha entrada paga. ou seja mantido pela iniciativa privada. Mas isso são ideia no meio de uma grande briga por mais uma área verde na cidade. Vendo que alguns dizem que a culpa pela falta d'água é o desmatamento da Amazônia e dos mananciais, vem a pergunta: se querem tanto que o desmatamento pare, por quê não querem a preservação do parque? O terreno hoje abandonado teria alguma função, sendo uma área de preservação ambiental e também servindo de uma área de lazer para os moradores e frequentadores da região. Um clima mais fresco e um ar mais puro pode ser sentido. Mas o parque na totalidade do terreno ainda será uma luta. Os que acampam no local podem ser até desqualificados, mas se forem mesmo da classe média, largaram a sua zona de conforto para lutar por algum ideal.
A reintegração de posse no terreno ocorrerá no mês que vem. Não saberemos suas consequências. Mas a chance de uma área de lazer na região pode morrer. Mas também pode renascer caso outros queiram mesmo o parque. Entre brigas de privado versus público, o que deve se valer é o bem comum dos moradores.

Bosque do Parque com um grande cartaz.



Para maiores informações:












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