Bem, eu estou a um bom tempo em casa sem um emprego fixo e só dando aulas, além de ajudar nas coisas aqui de casa e ir em entrevistas sem retorno esperado. Pois bem, então me sobra tempo livre para ler, aprender melhor os idiomas que exigem nos currículos por aí e claro, assistir. Seja na TV cada vez mais inundada de más notícias e com programas policiais a um milhão ou na internet. Mas na TV, entre janeiro e abril é de praxe passar o reality show Big Brother Brasil (BBB) desde o longínquo ano de 2002. Ou seja, desde da última vez que o país ganhou uma Copa do Mundo da FIFA passa esse reality. Amado por uns e odiado por muitos, o BBB reúne pessoas de todo o país (em teoria) para passarem 3 meses numa casa convivendo e com o prêmio atual de 1,5 milhão de reais. Nunca falei dele por aqui, mas a edição desse ano mesmo sendo considerada a pior do programa, me fez ter algumas análises.Este ano chegamos a edição de número 19 do reality, a primeira do Brasil presidido por uma cópia malfeita de Donald Trump, Jair Bolsonaro (PSL). E o que a emissora responsável pelo reality fez? Simples, reproduziu a extrema polarização deste tempo dentro da casa.
Juntando os fatores de que o público acha normal as declarações ditas pela sister e por ela aparentemente não machucar ninguém, com a ojeriza à esquerda e as causas sociais e também com o chamado "politicamente correto" fizeram Paula se tornar uma das queridinhas da edição. Pelo fato dela movimentar o jogo com suas declarações e seu jeito bastante ácido e "Insuportável" como dito por seus ex-colegas, Paula se tornou o único atrativo dessa edição do programa. Os outros participantes pouco fizeram caso e alguns mais engajados nas causas sociais e com as minorias, como Rodrigo e Gabriela sofreram grande rejeição. Sendo que os dois ainda foram taxados de "racistas", seja porque Rodrigo chamou Alan de "galego" ou Gabriela ter dito que Paula não deveria ganhar pois "É loira, de olhos claros e tem piscina em casa". Declarações como essas se tornaram para alguns mais graves do que as ditas por Paula. Sem contar que outros integrantes da "Gaiola" como Danrley e Elana, que poderiam ser favoritos por suas histórias de vida, também foram bastante rejeitados pelo público ao longo do programa por serem "vitimistas". Sem contar o agravante de que Danrley causou dúvidas com a sua sexualidade (mesmo sendo hétero) e Elana conviveu com críticas de telespectadores de sua suposta inveja de Isabella. Ela, piauiense e apesar de formada em engenharia, muito simples e Isabella, potiguar de origem italiana e ex-miss. Muitos disseram que Elana tinha inveja da beleza de Isabella (para mim, Elana é bem mais bonita, mas não vou entrar nesse mérito) e do seu envolvimento com Maycon (que foi um relacionamento abusivo de ambas as partes). Outra integrante da "Gaiola", a alagoana Rízia pode ter ido mais longe do que os citados, embora criticada por sua postura passiva e sem posicionamento na casa (que irritou até mesmo Tiago Leifert). Mas muitos apontaram a sua "perseguição" à baiana Carol Peixinho, loura e com o corpo em forma, já que a baiana sempre era mostrada na academia da casa. Já Rízia é além de jornalista, modelo plus size. Mais uma caso de pessoas que acharam que havia uma inveja feminina. Faltou ainda Alan, o vice-campeão da edição e que foi muito criticado por falar pouco na casa e apenas ser mais participativo no final da edição, quando foi líder duas vezes. Apesar de ter se mostrado uma pessoa tranquila e bastante simpática, sua falta de ação no jogo causou reclamações do público e seu segundo lugar foi bastante surpreendente. Citei boa parte dos participantes e muitos deles sofreram rejeição, ante Paula que o público simpatizava como "a sincerona". Quem poderia pará-la? Talvez a amiga Hariany, que também foi considerada "planta" como os integrantes da "Gaiola", mas que o público simpatizava por ser amiga de Paula. Os fãs de ambas se uniram fora da casa nas votações para eliminarem os adversários de um ou da outra, além de favorecerem Carol Peixinho, que se juntou as duas após a eliminação do restante do "Camarote" (Gustavo, Diego, Maycon e Isabella). Era natural que Carol saísse logo já que era vista como "falsa". Apesar das falhas e de pouco ser vista, Hariany era bastante assídua nas festas e um contraponto a Paula, pois a mesma controlava bem o que falava (se é que falava). Semelhanças com a também vencedora do BBB 16, Munik Nunes. Ambas são goianas, curtiam as festas como ninguém, foram coadjuvantes durante todo o jogo e por que não, jovens (19 anos tinha Munik em sua estadia na casa ante 21 de Hariany) e atraentes. Porém Hariany colocou tudo a perder quando agrediu Paula após uma bebedeira (a mineira também estava) ao se irritar com a amiga por não ouví-la. Justamente sobre o fato das declarações de Paula incomodarem parte do público, inclusive até mesmo Hariany. Pela agressão, Hariany pagou o pato e ainda deu impulso a amiga, que ficou vista como vítima da história. As duas mantiveram a amizade, porém não como antes. Muitos viram que Paula manipulou Hariany a fazer isso, sem contar o fato de que Paula ainda agrediu Hariany ao arrastá-la pela casa após o empurrão e não sofreu nenhuma punição do programa. Provavelmente a emissora ficou com medo da expulsão de ambas, pois sem Paula, a audiência iria cair e iriam chover comentários de que Paula é desfavorecida pela produção e edição do programa. Ainda mais o fato da emissora ser uma das poucas que noticiam bem as notícias negativas contra o atual presidente. Uma situação muito além do programa
O BBB, por bem ou por mal, representa uma pequena amostra da sociedade brasileira do momento. E nesse momento estamos com uma extrema polarização política, tendo de um lado os defensores do atual presidente e do outro, pessoas simpatizantes da esquerda e contra o político de extrema-direita. E o BBB fez isso na casa, selecionando participantes que em partes se encaixam no atual panorama político do Brasil. De um lado, um grupo que representa às causas das minorias (negros, LGBTs, indígenas, etc.) e simpatizantes da esquerda, que no programa foram denominados de "Gaiola" (em referência ao Baile da Gaiola, um baile funk comandado por Renan da Penha). Do outro, participantes oriundos de classes mais favorecidas e/ou que gostam de festas e não tem tanto compromisso político, que foram denominados "Camarote" ou "Villa Mix" (referência a casa de show sertanejo frequentada por pessoas de classe média alta).
A atual vencedora do BBB, Paula Von Sperling (28). |
O objetivo dessa premissa era garantir que a atual edição do BBB tivesse o que o programa sempre ofereceu e que muitos criticam: brigas, barracos e conversas acaloradas. Ou seja, materializar a violência verbal das redes sociais em um ambiente fechado e com câmeras para todos os lados. Garantiu conflitos na casa? Quase nada.
As brigas do programa foram inexistentes e os participantes, por maiores que eram as suas diferenças, conviveram de maneira bastante pacífica e mesmo com a intenção do programa de causar mais intrigas entre eles (muita bebida em festa, voto aberto, jogos da discórdia e até os participantes acorrentados), o jogo do BBB foi jogado de maneira tranquila pelos participantes e houve poucos conflitos. Apenas um que irei destacar mais pra frente. Mas o fato de um programa cuja premissa é ver gente tendo conflito ter gente se comportando como se estivesse em uma colônia de férias frustou muitos e a audiência foi a mais baixa da história do programa (pouco mais de 20 pontos). Claro que a péssima audiência da atual novela das 9, "O Sétimo Guardião", também contribuiu para o fato da baixa audiência, mas o programa possuía poucos atrativos e participantes nada carismáticos com o público, seja do lado da "Gaiola" ou do lado do "Camarote". Mas uma participante que não estava nos dois grupos levou o programa. A mineira Paula Von Sperling Viana.
A mineira de 28 anos é bacharel de direito e tem uma porca como animal de estimação. A voz estridente (bastante irritante) e um animal de estimação pouco comum (mesmo ela vivendo numa fazenda), além da aparência de "Barbie" sem tantos atrativos poderiam fazer Paula sair logo na primeira semana. No histórico do BBB, mulheres bonitas e pouco simpáticas sempre são as primeiras a sair. Paula parecia preencher os requisitos, mas foi ficando. E desde a primeira semana, estabeleceu uma amizade com a goiana Hariany, estudante de design de 21 anos. Era bastante dedicada nas provas (ganhou todas as provas de resistência), se divertiu bem nas festas e se mostrou bastante carismática. Entretanto, a mineira poderia ter botado tudo a perder por sua "boca grande".
Paula foi expondo suas opiniões dentro da casa. Muitas delas se tornaram polêmicas e foram classificadas como opiniões racistas, homofóbicas e preconceituosas em relação a outras religiões. Sem contar algumas visões no mínimo bizarras, como o fato dela ser contra a doação de órgãos pelo fato de que no céu (ou no inferno), ela ia sentir falta. Ela deu como exemplo a doação da córnea, na qual ela chegaria "no céu" sem um dos olhos. Opinião controversa, mas nada tão grave quanto outras que ela deu ao longo da sua estadia pela casa.
Suas declarações movimentaram as redes sociais durante os últimos meses. Entre suas declarações, estão:
- Quando ela disse ser contra as Cotas por serem uma forma de "Racismo do Estado";
- Ao comentar um caso de violência doméstica, ela disse ter se surpreendido que o assassino não era um "faveladão" e sim "branquinho";
- Ela comentou que tinha "cabelo ruim" (em referência ao cabelo de Elana, que tem cabelo cacheado), quando Gabriela e Elana falaram de creme para cabelo cacheado;
- Disse que humor negro era fazer piada com negros;
- Disse que a expressão "Loira burra" é uma forma de racismo é igual a "neguinho";
- Alegou que a homofobia é justificada por certos comportamentos dos homossexuais em público;
- Disse ter medo de Oxum e que "Nosso Deus é maior";
- Disse ter ficado chocada com um menino que beijou na adolescência pois ele morava na favela e que numa festa junina, "[...] baixou a favela inteira lá;
Bem, fazendo uma análise de tudo isso, qual seria o resultado normal? Paula poderia ter uma enorme rejeição e teria saído do programa. Mas ela acabou com o grande prêmio e o título de campeã. Mas o porquê desse acontecimento? Bem, a análise é um pouco mais complexa, mas as declarações de Paula são declarações que de certa forma fazem parte do cotidiano do brasileiro. Jair Bolsonaro, com declarações ainda mais controversas, se elegeu presidente. Com muitos naturalizando sendo algo normal e nada racista.
A questão é que o racismo brasileiro é diferente do que acontece na Europa ou nos EUA. Lá, quem é racista admite isso sem o menor pudor. E por lá, brancos e negros não tiveram uma grande miscigenação como aconteceu aqui neste país. E no Brasil, por causa dessa mistura de cores, dá-se a impressão de que tudo por aqui é pacífico e que todos se respeitam. Mas falas preconceituosas ditas pela atual vencedora do programa ditas de maneira tão natural mostram que não existe esse respeito. É sabido que a maior parte da população brasileira é parda ou negra. Mas nem todos admitem o sangue afrodescendente que corre pelas suas veias, já que os negros neste país sempre são associados a "pobreza, criminosos e malandragem". Sem contar os ideais de beleza, dito que os cabelos crespos são "ruins". E pior que isso é ainda acreditarmos de que os homens negros são "brutos e com órgãos sexuais grandes" e as mulheres negras como "sensuais, fogosas". Nesse sentido, os negros são constantemente desumanizados e com pouco papel de destaque. Claro que está mudando aos poucos, mas a mudança é lenta. Você vê por aí engenheiros negros? Médicos negros? Advogados negros? Pessoas em posições de destaque na empresa sendo negros? São exceções. Exceções que fazem com que a renda das pessoas negras sejam bem menores do que as dos brancos.
Mas voltando ao jogo, as polêmicas de Paula fizeram dela a queridinha do grande pública. Esperava-se que não, mas isso a fortaleceu no jogo por vários fatores. O primeiro é a própria edição do programa, com participantes poucos carismáticos com o público e que evitavam se posicionar diante das câmeras. Ou quando falavam, falavam pouco e de temas dos quais o público estava pouco interessado. Outro fator é a chatice que se tornou temas como racismo, feminismo e homofobia. Esses termos se tornaram um tanto banalizados com o público em geral e se tornaram temas atrelados a um espectro político (no caso, a esquerda), cujo os casos de corrupção do PT nos governos Lula e Dilma desgastaram a imagem desse lado político no Brasil com grande parte do público. São temas que não deveriam tomar um lado e sim, ser discutido seja pela direita ou pela esquerda. Porém só a esquerda os tornam relevantes no debate político e com a ojeriza à esquerda, os temas também tornam-se dispensáveis para o público médio brasileiro, justamente o que assiste ao programa. Ou seja, as declarações de Paula não chocaram a maior parte da audiência do programa. Sem contar o tom de sinceridade de Paula, que fez o jogo típico do Big Brother: falar mal por trás, combinar votos e sempre aparecer nas câmeras. Muitos internautas apenas diziam que Paula era sincera e que não se escondia das câmeras/holofotes, não fazia um personagem lá dentro e era uma pessoa simples do campo (este último, pouco verdade). Muitos ainda diziam que as declarações de Paula eram normais para uma pessoa do interior de Minas e que não era acostumada com tamanha diversidade. Porém isso pode ser rebatido, já que Paula tem Ensino Superior Completo (em direito) e na Universidade deve ter convivido com pessoas bem diferentes. Entretanto, a mineira disse que "não tinha amigos" e era bem reservada a família. Outro fator que quebra o argumento de "bom selvagem" de Paula são suas redes sociais cheia de fotos com viagens para fora do Brasil. Ou seja, Paula conhecia o mundo e não era como a sua colega de confinamento Elana que nunca tinha voado de avião. Sem contar que o povo estava cansado do politicamente correto, quebrado por Paula no programa e que até o nosso presidente em seu discurso de posse declarou que iria combater. Ou seja, tudo liberado.
As declarações de Paula são falas comuns à boa parte da audiência do programa e do país em geral. E essas falas parecem encontrar uma desculpa para terem sido ditas. Seja o fato de a garota ser uma "menina do campo" ou pelas declarações de sua família, na qual foi dito que ela namorou dois rapazes negros. Nesse caso, namorar uma pessoa negra a faria menos racista. Sem contar a declaração da mineira no programa com a chegada do italiano Alberto, vencedor da versão italiana do programa. Paula declarou preferir "o vencedor do Big Brother Angola". Além disso, ela disse que não se interessou em ninguém na casa pelo fato de não haver "um negão" do jeito que ela gosta e Rodrigo para ela "era estranho (homossexual)." Pode não parecer racista, mas Paula apenas sexualizou os negros. Alguém lembra do seriado de sucesso na Record "Todo Mundo Odeia o Chris"? Na série, temos a professora Morello (Jacqueline Mazarella) que não passa um episódio sem dizer alguma frase com conotação racista. Na mesma série ainda temos o bully Caruso (Travis T. Flory) que também frequentemente age com racismo com a protagonista, usando termos como"Pixaim". Já a professora parece bastante gentil com Chris, mas usa frases bastante inadequadas com o garoto como: "Chris, de que tribo você veio?", "Chris, eu estou muito decepcionada com você! Eu sei que nicotina, torresmo e bebidas fortes são vícios dos negros! Mas por que infectar o Greg?" e "O povo do Chris tem o costume acordar com o canto do galo para ir trabalhar no campo." São declarações cômicas (como as de Paula, aparentemente) e que o público acha engraçado, porém são racistas. Sendo a professora racista, a mesma tem um outro comportamento: sempre fica apaixonada por homens negros, pois em um episódio ela deixa de dar aula para sair com um namorado negro (que surpreendeu Chris) e atraída por um juiz negro em outro episódio disse que "[...] adora homens negros de terno". Pois bem, a nossa garota do mundo real também apresenta o mesmo comportamento da Srta. Morello, faz declarações racistas e namora homens negros. E não chega a causar rejeição como Caruso, que claramente é racista com Chris (mas no final da série, é dito que ele apenas tem inveja de Chris). Caruso, embora um racista declarado, também é um tanto hipócrita por gostar de artistas negros.
Joe Caruso (Travis T. Flory), um racista assumido e agressivo |
Srta. Morello (Jacqueline Mazarello), a professora racista de Chris, mesmo que não quisesse ofender Chris e ainda namorar homens negros. |
Juntando os fatores de que o público acha normal as declarações ditas pela sister e por ela aparentemente não machucar ninguém, com a ojeriza à esquerda e as causas sociais e também com o chamado "politicamente correto" fizeram Paula se tornar uma das queridinhas da edição. Pelo fato dela movimentar o jogo com suas declarações e seu jeito bastante ácido e "Insuportável" como dito por seus ex-colegas, Paula se tornou o único atrativo dessa edição do programa. Os outros participantes pouco fizeram caso e alguns mais engajados nas causas sociais e com as minorias, como Rodrigo e Gabriela sofreram grande rejeição. Sendo que os dois ainda foram taxados de "racistas", seja porque Rodrigo chamou Alan de "galego" ou Gabriela ter dito que Paula não deveria ganhar pois "É loira, de olhos claros e tem piscina em casa". Declarações como essas se tornaram para alguns mais graves do que as ditas por Paula. Sem contar que outros integrantes da "Gaiola" como Danrley e Elana, que poderiam ser favoritos por suas histórias de vida, também foram bastante rejeitados pelo público ao longo do programa por serem "vitimistas". Sem contar o agravante de que Danrley causou dúvidas com a sua sexualidade (mesmo sendo hétero) e Elana conviveu com críticas de telespectadores de sua suposta inveja de Isabella. Ela, piauiense e apesar de formada em engenharia, muito simples e Isabella, potiguar de origem italiana e ex-miss. Muitos disseram que Elana tinha inveja da beleza de Isabella (para mim, Elana é bem mais bonita, mas não vou entrar nesse mérito) e do seu envolvimento com Maycon (que foi um relacionamento abusivo de ambas as partes). Outra integrante da "Gaiola", a alagoana Rízia pode ter ido mais longe do que os citados, embora criticada por sua postura passiva e sem posicionamento na casa (que irritou até mesmo Tiago Leifert). Mas muitos apontaram a sua "perseguição" à baiana Carol Peixinho, loura e com o corpo em forma, já que a baiana sempre era mostrada na academia da casa. Já Rízia é além de jornalista, modelo plus size. Mais uma caso de pessoas que acharam que havia uma inveja feminina. Faltou ainda Alan, o vice-campeão da edição e que foi muito criticado por falar pouco na casa e apenas ser mais participativo no final da edição, quando foi líder duas vezes. Apesar de ter se mostrado uma pessoa tranquila e bastante simpática, sua falta de ação no jogo causou reclamações do público e seu segundo lugar foi bastante surpreendente. Citei boa parte dos participantes e muitos deles sofreram rejeição, ante Paula que o público simpatizava como "a sincerona". Quem poderia pará-la? Talvez a amiga Hariany, que também foi considerada "planta" como os integrantes da "Gaiola", mas que o público simpatizava por ser amiga de Paula. Os fãs de ambas se uniram fora da casa nas votações para eliminarem os adversários de um ou da outra, além de favorecerem Carol Peixinho, que se juntou as duas após a eliminação do restante do "Camarote" (Gustavo, Diego, Maycon e Isabella). Era natural que Carol saísse logo já que era vista como "falsa". Apesar das falhas e de pouco ser vista, Hariany era bastante assídua nas festas e um contraponto a Paula, pois a mesma controlava bem o que falava (se é que falava). Semelhanças com a também vencedora do BBB 16, Munik Nunes. Ambas são goianas, curtiam as festas como ninguém, foram coadjuvantes durante todo o jogo e por que não, jovens (19 anos tinha Munik em sua estadia na casa ante 21 de Hariany) e atraentes. Porém Hariany colocou tudo a perder quando agrediu Paula após uma bebedeira (a mineira também estava) ao se irritar com a amiga por não ouví-la. Justamente sobre o fato das declarações de Paula incomodarem parte do público, inclusive até mesmo Hariany. Pela agressão, Hariany pagou o pato e ainda deu impulso a amiga, que ficou vista como vítima da história. As duas mantiveram a amizade, porém não como antes. Muitos viram que Paula manipulou Hariany a fazer isso, sem contar o fato de que Paula ainda agrediu Hariany ao arrastá-la pela casa após o empurrão e não sofreu nenhuma punição do programa. Provavelmente a emissora ficou com medo da expulsão de ambas, pois sem Paula, a audiência iria cair e iriam chover comentários de que Paula é desfavorecida pela produção e edição do programa. Ainda mais o fato da emissora ser uma das poucas que noticiam bem as notícias negativas contra o atual presidente. Uma situação muito além do programa
Conclusão
A vitória de Paula no BBB 19 reflete muito bem o momento atual da sociedade brasileira, até mesmo mundial. Líderes como Jair Bolsonaro e Donald Trump se elegeram mesmo com comentários preconceituosos dos dois mandatários. Apesar da imprensa sempre ficar em cima com as declarações de ambos e tentar combatê-las, a imprensa acaba ficando com fama de mentirosa e de perseguição. Para estes, os mandatários são competentes e sinceros, falando "o que pensam sem medo" e contra o "politicamente correto". E Paula ganhou por justamente não ser politicamente correta, sendo sincera e sendo considerada uma pessoa de coração puro. Criada em um ambiente até diverso como ela diz (avó negra e outros parentes negros), ela usa isso como justificativa para minimizar suas declarações ante o publico e normalizá-las, sendo que seus defensores dizem que até os negros acham que não foi preconceito. E que o mundo está chato.
A verdade é que o povo brasileiro nos últimos tempos mostrou que é um povo bem diferente do que idealiza e vende. Se é um país rico em culturas e cores, por outro discrimina várias minorias e é contra a ascensão social. Prefere que só um tenha privilégios do que todos tenham. E ainda acha normal declarações racistas, machistas, homofóbicas e elitistas. Paula é só a síntese disso, uma alienada que fala isso como algo normal e corriqueiro. E apesar de chocar alguns, muitos veem como normal tais declarações e ainda acusam os outros de estarem agindo da mesma maneira, além de dizer que o mundo atual está chato e que ninguém pode mais "brincar em paz".
Mas as declarações de Paula chocaram diversos grupos, seja os negros ou os praticantes de religiões de matriz africana, que sofrem preconceitos até hoje. Vemos terreiros de candomblé serem destruídos e as oferendas serem criminalizadas. Paula disse ter "medo", o que muitos não veem como preconceito e sim como uma opinião sincera. Mas a palavra preconceito significa "medo, desconhecimento". Algo que Paula demostrou ter quando disse ter medo de Oxum. Pode não ter sido ofensivo diretamente, mas deixou pessoas ofendidas. E se Paula conhecesse tais religiões, dificilmente daria uma declaração desta.
A emissora que exibe o programa ainda fez vista grossa com o que foi dito pela casa. Paula não foi a única que deu tais declarações. Maycon deu declarações sobre abuso dos animais. Diego e Gustavo também deram declarações homofóbicas. Mas os três não foram carismáticos o bastante quanto Paula para terem ido em frente. Sem contar que não houve nenhuma declaração consistente da emissora, além de uma nota dizendo que combate o racismo dentro da empresa. Não houve uma ação educativa sobre religiões de matriz africana ou sobre preconceito racial, tal como houve no BBB10. Na edição, o vencedor Marcelo Dourado declarou "[...] que apenas homossexuais contraem o vírus HIV". Na mesma semana, um médico foi à casa para explicar sobre o vírus e desmentir os mitos da AIDS. O mesmo não foi feito no caso de Paula.
Apesar de que a mesma foi processada e a investigação correu durante o programa, Paula terá que prestar esclarecimento na delegacia contra crimes raciais apenas quando saísse do programa. Embora o racismo seja crime no país, a impunidade o faz ser "um crime menor" e poucos se mobilizam em casos assim. Sem contar que outro participante desta edição, o acriano Vanderson acabou eliminado por ter sido intimado a depor por conta de um caso de agressão a uma ex-namorada. Algo que não aconteceu com a mineira, que ficou até a final. Isso demonstra como declarações racistas não são punidas como devem, sendo um crime menor. E apesar das bandeiras nos últimos anos, muitos dos mais famosos nunca o combateram, como Pelé, que sofreu com o racismo durante a carreira, mas que ignorou a luta contra o mesmo. E ainda ganhou com mais de 61% dos votos, graças aos fãs fanáticos que comentavam em qualquer matéria ou rede social, lembrando os eleitores de um certo político. Certos de que a mineira era uma menina inocente e sem maldade nenhuma.
Claro que os participantes opostos à Paula não se mostraram carismáticos o suficiente com o público e não a confrontaram dentro da casa como o Big Brother pede (um barraco) e para o telespectador final, não mereceriam o prêmio. Não foram sinceros o bastante dentro do jogo. E eram chatos demais para a maioria dos telespectadores.
Uma grande mudança aconteceu para essa vitória de Paula. Se no ano passado, a final do programa incluiu uma mulher negra e simpatizante do PT (Gleici, a vencedora da edição) e um refugiado sírio (Kaysar Dadour, que agora está na novela), este ano uma pessoa com declarações controversas e bem semelhante com o atual presidente foi a eleita do povo para o prêmio de 1,5 milhão de reais. Claro que no sentido do jogo, Paula foi uma excelente participante. Ganhou as provas de resistência, se posicionou no jogo e não hesitou de aparecer. Mas no sentido humano, ela apenas reflete o pior do Brasil nesse momento.
Claro que não desejo o mal à ela (como aqueles que a ameaçaram nas redes sociais). Mas espero que ela tenha mais cuidado com as suas declarações e mude a sua mente pequena de classe média. Paula deve ter noção de que seus comentários podem ter sido ofensivos e que saiba ouvir os outros. A vencedora demonstrou na casa não gostar de ser contrariada ou quando as coisas não estavam bem para o seu lado, como as indicações no final por Alan que a irritaram e ela que se dava bem como o catarinense, passou a criticá-lo fortemente.
Que os erros cometidos na casa possam fazê-la refletir sobre os assuntos do mundo atual. Não apenas ela, mas toda uma sociedade moldada no preconceito e que até hoje esconde seus reais pensamentos. E que isso não seja confundida com verdade, pois a verdade é aceita por todos e não apenas por um grupo.
Fontes e matérias externas acerca do assunto: