terça-feira, 7 de julho de 2015

A síndrome do 7 a 1!

Bem amigos, amanhã um dia fatídico completa um ano. Disse um ano. O quê mesmo, um massacre de grandes proporções, uma tragédia nacional ou mesmo uma revolução ao estilo russa? Não amigos, amanhã a maior tragédia do futebol brasileiro completa um ano. Anda bem fresca nas nossas memórias o dia que a seleção brasileira perdeu feio em casa. Para a Alemanha. Por 7 a 1. E como ficou eternizado por aqui: "7 a 1 foi pouco".
Naquele dia do jogo, havia um clima de otimismo. Mesmo a seleção não fazendo jogos muito convincentes, chegou as semifinais. Havia confiança nos jogadores e na torcida brasileira. Mas tudo foi por água abaixo em menos de meia hora de jogo. A Alemanha havia marcada 5 gols nesse meio tempo, sendo 4 marcados em menos de 6 minutos. Nunca na história do esporte, tantos gols foram marcados em tão pouco tempo em uma semifinal de alto nível. Brasil e Alemanha, então 8 títulos em campo. E isso na Copa realizada no nosso próprio país, depois de 64 anos após a primeira Copa realizada em casa em que perdemos o título para o Uruguai no jogo que calou 200 mil pessoas em pleno Maracanã. Depois daquele dia, o futebol brasileiro mudou para melhor. O Brasil ganhou cinco títulos mundiais, revelou os maiores jogadores da história e se tronou o "país do futebol". Mas daí veio o grande baque, muito pior do que aquela derrota no Maracanã. Desta vez foi Minas Gerais, Belo Horizonte. Com um quarto de pessoas daquele dia no Maracanã. E outras milhões de pessoas que desta vez não ouviam os jogos na rádio. Viram tudo pelos seus televisores e computadores. em alta definição toda a grande partida dos alemães.
Após aquele dia, vimos que não éramos mais os melhores. Um clima de pessimismo surgiu e que está ainda pelo ar. Já não temos os melhores jogadores, não jogam mais nas melhores ligas de futebol do planeta, nossos clubes já não são mais tão grandes quanto achávamos e nossos técnicos e esquemas táticos se tornaram obsoletos da noite pro dia. Já não metemos mais mesmo em ninguém e nos apegamos ao passado. Parece que ficaremos mais do que 24 anos para conquistar o título novamente. E a nossa síndrome de vira-lata que já não era tão pequena se agigantou. Agora nosso time de futebol nacional vale menos que uma Colômbia, Chile ou Peru da vida.
Pagamos um alto preço pela nossa arrogância. Vimos que não dá para enganar os nossos adversários de como nós já estamos. Já não somos os melhores, já disse. Agora não metemos mais medo em ninguém. O respeito vai demorar a voltar. Antes daquele jogo, não sabíamos que a CBF era corrupta e hoje nós a enxotamos, mesmo vestindo sua camisa nos protestos contra a presidente. Não sabíamos que nossos jogadores novos estavam mal preparados e não eram tão dribladores quanto antes. Não eram novos Neymar, Ronaldo, Zico ou Pelé e eram super inflacionados para serem vendidos à Ucrânia, China ou Emirados. Não sabíamos que os clubes brasileiros estavam indo de mal a pior com suas finanças, com seu departamento de futebol. Não estávamos nem aí se nossos jogadores não treinavam direito e passavam o dia no Instagram tirando selfies e comendo chocolate. Agora, tudo isso cai de uma só vez quando o Brasil sofreu 7 a 1. E na Copa América, nunca fomos tão pessimistas. Deu no que deu e fomos eliminados mais uma vez pelo Paraguai nos pênaltis.
E desde aquele dia, a seleção não representa mais seu torcedor. E nos apegamos a jogadores do passado. A zagueiros brucutus que não faziam pose pra foto e davam chutão e carrinhos sem dó. Aos meias e atacantes boêmios que levavam mulher para concentração e faziam pagode na mesma. E nos apegamos a jogadores que não usavam chuteiras coloridas ou tinham tatuagens pelo corpo. Mesmo que naquela época também nós os criticávamos. Nem lembramos mais que o Brasil eliminado em 2006 tinha jogadores que mal treinavam. Ou o Brasil de 2002 que quase não se classificou para a Copa, mas que agora é um time de Deuses e Santos. E o de 1994 que praticava um futebol pragmático e dependia de dois jogadores para vencer Suécia, EUA, Camarões e outras potências futebolísticas. Estamos tão apegados ao passado quanto os húngaros àquela seleção de 1954 que metia 7 a 1 em todo mundo até encontrar a...Alemanha. Não perdeu de 7 a 1, mas perdeu um título que estava quase que ganho. Mesmo que os problemas que acometem o futebol brasileiro vem de épocas passadas, nos apegamos a origem de tudo.
Bem, o lado bom da síndrome do 7 a 1 é que nós vimos os nossos problemas aqui em casa. Até aí tudo bem. Mas o problema é que não achamos que vamos superar. Preferimos crucificar todos aqueles que estavam no 7 a 1, Felipão e todo mundo. Preferimos falar mal e mal da geração atual. Preferimos culpar Lula e Dilma pelo fracasso do futebol, mesmo que esqueçamos que a CBF é um EMPRESA PRIVADA. Consideramos o futebol algo estatal. Tanto que nós resolvemos aplicar o 7 a 1 na política, economia, educação ou segurança em comparação com a Alemanha. Levamos 7 a 1 de tudo deles agora. E de todo mundo. E com a crise econômica atual que o país vem passando, sem contar a crise social que vem de épocas passadas e nossa síndrome de vira-lata, o "7 a 1 foi pouco" ganhou força. Tudo por causa de um jogo de futebol. Achamos futebol tão importante que uma derrota destas proporções no Brasil equivale as bombas de Hiroshima e Nagasaki no Japão. E sofrendo algo assim, vemos que não somos capazes de nos reerguer. Se não vamos bem no futebol, não parecemos bem em mais nada. Mesmo que o vôlei vá bem, o pólo aquático melhorando ou o handebol campeão mundial, sem bons resultados no futebol nos fazem pensar nos problemas da vida que aparentemente não existiam. E até para cutucar o Brasil isso foi usado, como no caso de Israel (que já não tinha bons argumentos) para criticar a posição do país em relação ao confronto com a Argentina. E muita gente engoliu isso aqui.

Capa do jornal Marca da Espanha após o jogo...
                     

Bem, devo lembrar que a Alemanha passou por maus bocados para se tornar o que é hoje em dia. E quantos maus bocados. Para começar, perdeu duas guerras mundiais. Passou por crises financeiras em que a inflação chegava na casa dos milhões. Viu o nazismo ascender ao poder e causar tragédias que até hoje o povo alemão se sentiu culpado. Foi dividido entre os vencedores da guerra. Foi separa em Alemanha Ocidental e Oriental. Passou pela dor da separação do Muro de Berlim. E no futebol, ganhou títulos como o Brasil. Mas também passou por vexames. Após o 5 a 0 sofrido para a Inglaterra em casa e a eliminação na primeira fase da Eurocopa em 2000 sendo a atual campeã, viu que era a hora de mudar. Resolveu mudar o jeito de jogar, sem se apegar tanto a força física como antes. Resolveu aprender com brasileiros, argentinos e franceses como jogar com técnica. Incentivou as categorias de base de clubes grandes e pequenos. Melhorou os estádios e a liga alemã passou por mudanças. Mas os resultados não vieram imediatamente. Foi vice-campeã do mundo em 2002 e não passou das semifinais em 2006, quando foi sede da Copa e 2010. Mas foi ganhando experiência e lançando novos jogadores, mais técnicos e tão táticos quanto eram os velhos alemães. E não demitindo o técnico mesmo depois dele bater na trave em mundiais e Eurocopas, em quase 9 anos de comando de Joachim Löw, o tão sonhado título veio. Tudo graças a algo que os brasileiros parecem não possuir: pensamento a ongo prazo. E o mesmo se aplica a economia, educação, segurança...
Algo que percebo em meus compatriotas é pensar muito no presente, em agradar e arrebentar no exato momento e nunca pensar lá em frente. Veja os treinadores de futebol. Eles perdem 3 ou 4 jogos seguidos, clube e torcida perdem a paciência e querem logo sua demissão. Seja o clube grande ou pequeno, o medo sempre ronda os treinadores brasileiros e atrapalham seus trabalhos. Nunca há continuidade e técnicos que ficam mais que 2 anos no mesmo clube já viram deuses mitológicos, como Tite ou Muricy Ramalho.
Queremos que nosso jeito de jogar seja igual ao da Liga dos Campeões ou até mesmo do Raja Casablanca, mas nunca pedimos pros jogadores treinarem passe. Nem exigimos isso na base, uma vez que empresários pagam para que os seus joguem. Além do que, já pegamos na base jogadores fortes e sem qualquer técnica para logo eles irem para Europa ou Ásia, em ligas desconhecidas e ganhando milhões por isso. Não preparamos o jovem pro futuro e sim para o presente. O dinheiro subiu a cabeça, mesmo que os resultados não sejam os melhores. Se fosse por resultados da base, Nigéria e Gana já seriam as melhores seleções do mundo atualmente. E onde os talentos destes países vão jogar? Bem, perguntem no posto Ipiranga (desculpem a publicidade)...
Mas mudanças não são assim. imediatas. Temos preguiça em medidas a longo prazo e sempre vamos pelo caminho mais fácil. Não temos paciência e nem humildade para assumirmos os erros. Ao assumirmos, não adotamos medidas para que nunca mais as ocorra. Só damos uma ajeitadinha aqui e ali para melhorarmos as aparências É como um prédio com problemas hidráulicos que ameça a estrutura, mas passamos tinta e um pouco de massa para "maquiar" o problema. Assim somos nós ao nos humilharmos todos os dias com o 7 a 1 e nós fazermos piada disso todo dia. Achar que os alemães são agora seres de outro planeta, os argentinos serem deuses olímpicos e até chilenos e colombianos serem titãs. Assim nós disfarçamos nossos problemas e não queremos resolvê-los ou esperar e trabalhar para que tudo seja superado.
E tudo o que foi conquistado passa a ter menos valor do que esta derrota anormal. Todos os 5 títulos já conquistados, Copa das Confederações que já goleamos a Alemanha na fase ruim deles e Copas Américas, dentre outros títulos, de nada valem agora. Felipão, ídolo da seleção e até então tratado como herói virou piada e motivo para ter vergonha. Ficou ultrapassado, lógico. Mas ninguém se lembra mais que conquistou a Copa com 7 vitórias em 2002, algo que jamais foi repetido pelos campeões seguintes.  Temos um passado vitorioso, mas que infelizmente nos gabamos demais disso e achamos que não tínhamos mais que mudar. Mas o 7 a 1 nos mostrou que precisamos mudar muito para se adaptar ao futebol atual. Ao perceber que seleções como Argélia e EUA foram mais agressivas contra os alemães do que os brasileiros, mostram que precisamos mudar. Mas não que isso seja um fim de mundo, já que foi um jogo que a Alemanha jamais vai repetir (a não ser contra Gibraltar) e um jogo que talvez o Brasil não jogue tão. Ainda sim nos humilhamos todo santo dia desde então por um jogo atípico. Não que devemos ignorar isso como um reflexo da nossa atual gestão que pode estar dentro de instantes em um tribunal por bilhões ilegais. Mas não devemos carregar para sempre este fado afim de nunca mais melhorarmos. Precisamos virar esta página. Não de uma vez, mas precisamos fazer como diz a música , "sacudir a poeira". Varrer os podres de dentro do país e pô-los fora.
E a vida segue. Mudanças tem que vir. Mas tem que vir com otimismo e sem pressa. Como dizem, " a pressa é inimiga da perfeição". Teremos jogadores ainda mais talentosos que Neymar e companhia de hoje. Basta saber como trabalhá-los. Basta de empresários no meio. Basta também educá-los e dizer para jogarem com humildade, pois vimos no que a arrogância deu. Seja dos jogadores e da torcida. Mesmo indo agora ao extremo de acharmos que iremos perder até para o Taiti, nunca devemos perder a esperança. Assim como os alemães que não pensaram em manter as aparências do presente e ganharam por pensar no futuro. Assim como as seleções medianas que melhoraram agora pensando cada vez mais alto. E não será uma corrente chamada 7 a 1 que nos irá prender. Seja no futebol, na política, na economia ou em nossas vidas. Precisamos realmente sermos firmes e objetivos no que queremos, sempre em bem de todos e não só de um. Isso se aplica no jogo, para não dependermos de um salvador da pátria. O 7 a 1 já foi, foi piada que perdeu a graça para manter as aparências. E ao fim destas palavras, o 7 a 1 virará 8 a 7. E a síndrome do 7 a 1, curada.

Por enquanto até tomarmos atitude e deixar para trás o que lhe prende!
         


   

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