quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Uma homenagem aos engenheiros negros

Hoje, 20 de novembro se celebra o dia da Consciência Negra. A data foi escolhida em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmeires, que lutou contra a escravidão no longínquo séc. XVII, mas acabou morrendo nesse mesmo dia pelo bandeirante Domingos Jorge Velho.
Apenas mais de 200 anos depois da morte de Zumbi, foi assinada a Lei Aúrea, que libertou os negros. Mas não os integrou completamente a sociedade e uma grande dívida se formou para seus descendentes a ser paga. Na educação, as Cotas, um tema para lá de polêmico. Mas de certa forma, o número de negros aumentou nas universidades brasileiras nos últimos anos.
Mas antes mesmo de Cotas, libertação de escravos e inclusão social, dois engenheiros negros e baianos se destacavam no Brasil Império. E hoje, o blog presta homenagem a esses dois grandes homens, que tem seus nomes bem conhecidos por ruas, avenidas e cidades do país.

André Rebouças

Retrato de André Rebouças

O baiano André Pinto Rebouças nasceu no ano de 1838, na cidade de Cachoeira (BA). Era filho de um famoso jurista e deputado, Antônio Rebouças e de Carolina Pinto. Teve como irmão, o também engenheiro Antônio Rebouças Filho.
Com 16 anos, a sua família se mudou para o Rio de Janeiro, então a capital do Brasil. Em 1860, ele se forma como Engenheiro Militar pela hoje Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e após um ano, vai para Europa junto do irmão, afim de se especializar em Engenharia Civil.
Volta ao Brasil e atua como Engenheiro Militar na Guerra do Paraguai. Passado a guerra, volta a vida civil participando de obras de melhorias nos esgotos da capital carioca e nas obras de portos e docas do Rio. Junto de seu irmão, foram os primeiros engenheiros brasileiros a utilizarem o concreto armado na década de 1870, em uma ponte de Piracicaba.
O irmão de André, Antônio, falece em 1874, nas obras da ferrovia Curitiba-Paranaguá, cujo o idealizador foi o próprio. Após isso, André Rebouças ocupou cargos administrativos e se dedicou a causa abolicionista, junto de outros intelectuais como José do Patrocínio e Machado de Assis.
Simpatizante da Monarquia, André Rebouças deixa o país após a queda do Imperador Dom Pedro II, em 1889 e parte junto deste para a Europa. Após a morte de Dom Pedro II, André Rebouças trabalha por pouco mais de um ano em Angola. Volta para Portugal, onde tem um trágico fim. Acabou se suicidando em 1898, na cidade portuguesa de Funchal, deprimido e se atirando de um penhasco. Embora teve um triste fim, Antônio Rebouças foi eternizado na nomenclatura da Avenida Rebouças em São Paulo e na cidade de Rebouças, no Paraná.


Teodoro Sampaio


Retrato de Teodoro Sampaio

Nascido em 1855, na cidade de Santo Amaro da Purificação (BA), Teodoro Fernandes Sampaio era filho de uma escrava. Não se sabe ao certo quem era o seu pai, mas o mais provável era de um padre que lhe emprestou o nome. Foi separado de sua mãe aos 10 anos, e foi para São Paulo e depois disso, foi para o Rio de Janeiro concluir os estudos.
Graduado em Engenharia no ano de 1877, pela mesma Escola Politécnica do Rio De Janeiro, iniciou sua carreira ainda estudante, em 1875, como desenhista do Museu Nacional. Após se formar, consegue a alforria (libertação) de seus irmãos ainda escravos. Teodoro nunca chegou a ser escravo, por ser filho de branco.
Torna-se o único brasileiro no meio de engenheiros estadudinenses, na comissão hidrológica nacional, em 1879. Mas conviver com os gringos não era problema, pois Teodoro era um homem culto e falava fluentemente várias línguas. Participa da construção da ferrovia São Francisco-Salvador, que ligava a cidade de Salvador até Alagoinhas, cidade as margens do Rio São Francisco. Integra também, em 1886, a primeira comissão de levantamento geológico em São Paulo. Foi o primeiro engenheiro a utilizar a geodésia, que estuda o terreno com base no formato redondo do planeta. Isso tornou os seus levantamentos topográfico mais precisos.
Após isso, tornou-se um dos fundadores da Escola Politécnica de São Paulo (hoje, a POLI-USP) e do Instituto Geográfico de São Paulo. Depois de passar por São Paulo, volta ao seu estado natal e contribui para o atual urbanismo da cidade de Salvador, bem como é responsável pelo sistema de esgoto soteropolitano. Tornou-se deputado federal pelo Estado da Bahia em 1926 e 1928. Acabou falecendo em 1937, no Rio de Janeiro.
Teodoro Sampaio acabou também por influenciar o escritor Euclides da Cunha no seu livro Os Sertões, já que Sampaio ajudou Cunha na descrição da topografia, relevo e clima. Teodoro foi acima de tudo, um brasileiro que acreditava no potencial do país. Hoje, seu nome está em uma famosa rua de São Paulo, duas cidades (em SP e na BA) e também na dupla, Teodoro e Sampaio.

3 comentários:

  1. Uma profissão de extrema importância, principalmente no momento atual de necessidades de superação para o desenvolvimento do Brasil. Para nós negros, um duplo desafio: vencer as barreiras do preconceito e das dificuldades pela quantidade de conhecimento técnico necessários da profissão!
    Flávio Eduardo Neves Teixeira
    Engenheiro Elétrico/Computadores
    CREA-RS 107208

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    1. Olá, faz algum tempo que procuro grupos de estudantes ou proficionais negros na Engenharia afim de compartilharmos experiências a respeito da nossa realidade, porém não obtive sucesso nas minhas buscas. Conhece algum grupo dessa natureza, ou tem interesse de criar comigo?

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  2. Obrigada pela reportagem. Referências negras na engenharia (principalmente de mulheres) são difíceis de encontrar. Flávio, seu comentário é um fato. Aceitamos este e também o desafio de inspirar os que estão por vir!

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